Número 11



ruído 11: de pérolas e espelho e palíndromos

à língua das ribaltas:

André de Leones estava bêbado um dia desses. Se contяariou consigo. Se contяariou com o dia. Acho que André descobriu como dizer o que fazemos todos os dias, embora isso pareça contяário ao dia. (Mieloma de Ocasião)

Cristiano Pimenta, para nosso deleite, sacou o que escapou a muitos: a fina ironia de Padilha em Tropa de Elite. Capitão Nascimento não é herói. Ele é o agente da polícia que converte homens em demônios, como é o caso de Matias. (Êxtimo)

Se Tissot revestiu “de medicinal e científico o que não passava de lorota religiosa” não sabemos ou Nereu da Silva reinventou o médico suíço. O caso é que, agradecido pela conversão do ideal em material, como prova de Sua própria existência, Deus pagou o pato. (Gargântua)

Como o lado que dói nunca é o mais ferido, Nilson Pereira visita a dor avistada de perto de fora, onde a surdez da morte se avizinha. E vão por aí Jorge de Lima e João Bosco, passando por Aldir Blanc, Wally Salomão e Antonio Cícero. (VIVER DÓI!)

Salomé ou a beleza quando flamba farpas e aguilhões na manga é talvez o mote de Patrícia Martins. A acuidade crítica da colunista sobre a femme fatale é tão precisa que eu daria minha cabeça para Salomé exercitar sua sedução sedenta de sangue. (Patchwork)

Deoclécio Carlos, “ser que transpira música e não tem papas na língua” e que não costuma dar entrevistas, foi entrevistado por Paulo Guicheney. Uma “saravaida de impropérios” e boa perspicácia, saiu disso. E rolou Chico Buarque, para agonia de muitos. Vejam lá! (C-dur)

O homem nu ou descascado pela angústia, porque “inverva a medula metálica do homem”, engrenado na máquina jamais estável do sofrimento, é o mote ou tema catalogado no silêncio por Wesley Peres. (Vaca de Nariz Sutil)

Wilton Cardoso deixou definitivamente provado que o estatuto da ficção e o da biografia são o mesmo e que toda maneira de ensaio é uma maneira de monólogo em diálogo. E prova ao entrevistar Zé Pelota, personagem e gente, “imprevisível, mas mais aberto à conversação”. (Neuropop)

“Adiamentos” não são poemas para depois. Em número de IIIIIII, como grades ou estacas ou facas cravadas na medula do espírito, os “Adiamentos” de Dheyne de Souza são a experiência do dia em fagulhas cirúrgicas de poesia. (Hexercício Íbrido)

o poeta jamesson buarque continua na mesma. prometeu todo o “livro da lembrança” das quatro intuições de rosas. e é só o que ele pode fazer. (página p.)

Enciclopédia saída do silêncio: uma mulher enterrada em teias, um rosto dissipado na cidade e não sei se Chaplim virou Da Vinci ou se um fantasma atravessou meus olhos e me mergulhou num poço. Essas são notícias de Fred Martins. (Cova do Corvo)

Daniela Bunn passeia pela tessitura plástica da poesia de Murilo Mendes, e eu diria que com uma intimidade impressionante. Aroldo Leão, em dois poemas, canta o grito que todos queríamos hastear para fora do tolhimento do homem contemporâneo. A canção “Primeiro segredo”, do compositor Reginaldo Mesquita, nos convida a visitar a infância por dentro dos olhos. Em quatro telas, Sylvana Lobo gesticula quando o feminino se desmancha aos olhos e singra a redesenhar a existência do que um dia se chamou vida. Nas palavras de Paulo Guicheney, a peça “Altrenativa”, do músico chileno Bryan Holmes, é “uma viagem em que um piano e um violino se transmutam em trens, motosserras e coisas de um outro planeta”. (Contribuições)

Pensavam que eu iria falar do número 11? Erraram! Só porque tenho psicose por palíndromos? (Até escrevi um livro palindrômico.) Somente porque 11 me lembra de Éder, aquele ponta da Seleção de 1982, e que tinha um balaço canhoto que abalou a muralha soviética Dasaiev? Ou porque 1 + 1 é igual a 2 e 2 vezes 11 é igual a 22: outro palíndromo? Estão muito enganados. Não tenho nada a ver com números. E acaso uma psicose é motivo para vocês pensarem que mexo com numerologia? E só porque este parágrafo tem 121 palavras, que é outro palíndromo, e que dividido por 11 dá 11? Não. Vocês estão enganados. Vão ler as colunas que é o melhor que vocês fazem.



jamesson buarque