Vaca de Nariz Sutil



Dheyne de Souza, Carvão sobre papel, 2007

Desmontagem de um haikai ainda

inescrito ou homem pensando eixos

de sua biografia inervada nessacidade


[1.]

A lógica o objeto o pássaro morto a carne viva

do homem morrendo as estrelas entristecem as paisagens,

iluminam o pó da pele e a matéria das palavras

deixando bocas digitando a curvatura azul

do som da sombra

de qualquer quem se empedra

no movimento ensurdecedor de operar enigmas

e o manejo até mesmo as gramáticas do afeto.

[2.]

A substância angústia

inerva a medula metálica do homem

feliz esperando a morte

a morte sempre mórbida do aparelho perceptivo

do homem inervado pela substância

amorodiar o alimento convém ao Deus

também convém ao homem,

a mortalidade torna o homem inamordaçável.

As nervuras da carne jamais se calam,

andarilham infernos, paredes móveis

movendo os vazios de lugar.

[3.]

Não há sequer sofrimento estável.

A angústia:

máquina orgânica logoilógica

despe limitrofias e analogias,

veste nem relógio digital

e sequer o silêncio em que investe.

[4.]

A despeito da montagem

não há imagemnemônica

nem nenhum som radiografado

nem código algum nada

cura da-coisa-anônima-ele o homem.




Wesley Peres

Wesley tem 31 anos, mas sempre acham que ele tem cara de 30. Vencedor do Prêmio Sesc de Literatura 2006, com o romance Casa entre Vértebras (romance), Editora Record, 2007. É autor de Água Anônima (Prêmio Cora Coralina, 2001) e Rio Revoando (Com-Arte/USP, 2003). Em 2007 lançará Palimpsestos, pela UFG. Acha deplorável pessoas que gostam de Fanta Uva, gosta muito de estourar aquelas bolinhas de plástico e da literatura produzida na Papua-Nova Guiné. Ah, é psicanalista e mestre em estudos literários pela UFG e doutorando em Psicologia Clínica na UnB. Mora na Cataluña. E-mail: wesleyperes@uol.com.br