A TRAMA MURILIANA


Organizar a desorganização,

ou desorganizar a organização?

Rotação, contaminação,

colóquio com os tempos.

Subversão do espaço.


Murilo Mendes

“Texto Setor Délfico”

(Poliedro, 1965-1966)


Na subversão do tempo, na destruição das colunas da ordem e da desordem vemos o poeta oscilando entre a composição e a recomposição de elementos que se (des)integram em cada poema. Talvez por isso, a poesia de Murilo Mendes, como bem lembra Italo Moriconi, é de difícil acesso e pouco popularizável, porque nela quase não há, como afirma, poemas individualmente marcantes, “daqueles que a gente decora e carrega na cabeça até a hora da morte”. São poemas complexos, surreais e abstratos que marcam pelo modo como agem em nosso pensamento — rotação, contaminação, subversão.

Os poemas, assim como os escritos em prosa, dialogam constantemente entre si. Palavras aparentemente incompatíveis vivem em harmonia em cada verso em metamorfose, ultrapassam estratos da escrita e se proliferam em outros estratos. Num processo contínuo, a máquina muriliana produz uma espécie de entrecruzamento de linhas e idéias que criam as redes de analogias entre os signos. Como lembra Arlindo Daibert, ao longo da obra de Murilo Mendes, a afinidade entre as artes plásticas e a poesia caminha para uma perspectiva de entrelaçamento. A imagem, o quadro, já não ‘contaminam’ o poema, tornam-se seu tema.

A palavra é muito adequada para tal união. Entrelaçando uma palavra a outra, Murilo conceitua a arte de cada pintor num juízo de gosto antagonicamente desprovido de conceito (lembro Kant). Esse entrelaçamento reúne idéias e signos que se misturam, se embaralham, se vinculam por analogias e por metáforas passando uns por dentro dos outros. O entrelaçar ocorre tanto na superfície da escrita ao cruzar artes, música e literatura, quando na interfície desta, no interior de cada verso, ao cruzar poemas com outros poemas, como lembra Raul Antelo.

Murilo caminha livremente no interior de certos quadros e se reconhece através deles. Um caminhar lento, minucioso, aguçado ao sentir a cor e ver o cheiro. Murilo procura um elemento territorializado, um altro revelado na pintura e que será incorporado ao corpo do poema.

Murilo afirma não seguir regras ou convenções e escreve poesias sem os artifícios usuais. Sendo assim, o poema não-convencional, como aponta Antonio Candido, lança o leitor diretamente no campo do significado ou na busca deste. O leitor não se preocupa em observar a rima, pois esta não se faz presente. O ritmo, este sim, está intrincado nos versos. Cada verso tem um ritmo próprio que completa a melodia do poema de tal maneira que este pode ser lido como uma partitura, um andamento musical. Fica difícil, portanto, analisar convencionalmente um poema de Murilo. Resta analisar o conteúdo estético, o modo de composição artístico de cada texto e entrecruzá-los, vendo-os como peças que formam um único mosaico — ressaltando, sobretudo, o RITMO, o SIGNO e a TRAMA.

RITMO é uma palavra-chave para a compreensão da leitura que Murilo faz das artes plásticas. Esse movimento ou ruído que ocorre com intervalos regulares é uma modalidade de compasso que caracteriza uma espécie de composição. O movimento apresenta uma relação de intensidades entre as pulsações e atuou no desejo de abstração de muitos pintores modernos que tomaram como referência a música (sons puros = cores puras) e a arquitetura. A ligação de Murilo com a música desempenha um importante papel na leitura das telas que o poeta denomina de certa forma abstratas (mesmo que outros críticos dêem outras terminações).

O ritmo — essa musicalidade transeunte — encontra-se no entre-lugar do texto. O ritmo em Murilo não é perdido nas múltiplas cesuras dos poemas, ao contrário, ele se desterritorializa num verso e se reterritorializa no seguinte (o que Deleuze caracteriza como ritornello, forte coeficiente de reterritorialização). Para Deleuze, o ritmo não se coloca no meio, mas entre dois meios, entre dois entre-meios e o fato que o caracteriza é justamente mudar de meio. É justamente o ritornello territorializante que traça uma linha transversal entre os versos numa (re)composição: um signo, um ritmo, outro signo, um ritmo, o mesmo signo — uma música, uma tela.

Como afirma Kandinsky em De lo espiritual en el arte (1997), as vozes interiores das coisas não ressoam isoladamente, mas todas juntas, música das esferas. Kandinsky busca o sentido cósmico do mundo, o som da própria tela, aconselhando-nos a ouvir as linhas e as cores: o poder de (re)ver essências. Murilo ouve o som da tela e o transfere para o poema, o ouvido é aguçado como o olhar.

Kandinsky utiliza o olhar por cima do muro para tirar proveito das artes vizinhas, ou seja, colorismo em música e ritmos em pintura. O motor dessas máquinas do fazer é sem dúvida o desejo, uma finalidade inconsciente, mas existente. O conteúdo da obra de arte, segundo o pintor, é o desejo, a princípio vago, que o artista quer materializar. Murilo nos faz ouvir o que o quadro tem a dizer, sentir suas cores, vivenciar o tempo da tela: olha por cima do muro e ouve ruídos de todos os lados. Para Deleuze, a música tem uma força territorializante maior.

Ritmos constantes e desordenados são característicos de muitos pintores citados por Murilo, algo que, em “Formação de Discoteca“, o poeta-crítico chama de inteligência ordenadora, mesmo que perante o caos dos sentidos. A inteligência ordenadora atua em Gastone Biggi nos pontos e nas figuras geométricas ritmadas e progressivas num contexto tecnológico de fragmentos mecânicos. Murilo afirma que o esquema geométrico instaura algo de vivo na tela mesmo que se dissolva nos objetos, como em Giorgio Morandi. Em Giuseppe Capogrossi, Murilo observa uma operação eletrônica onde o signo se fecha na tela e se abre ao fruidor, instaurando uma presença metálica. Através dos fragmentos dentados, da presença mecânica como dos seus próprios símbolos torcitários, Murilo elenca uma predileção por certos instrumentos, certas operações e, sobretudo, sobre a geometria da tela. Reduzir e captar a essência, eis um provável fator de incorporação do signo ao quadro através do olho que se torna “mão” do rosto, podendo “tocar” certos objetos e doar-lhes vida estética.

Nas crônicas musicais, como nas críticas de arte, existe a possibilidade de conhecer o artista através de Murilo por meio de suas transgressões e (re)criações. Percebemos a polifonia do coro (o indivíduo polifônico vence o coro), a melodia, a inteligência ordenadora e o papel do espectador. O espectador mostra outro tipo de postura e é convidado a participar da obra, a experienciá-la com seus sentidos (aqui sim, livramo-nos da ditadura do olhar: a arte envolve outros sentidos, passamos a tocar a obra de arte, a cheirá-la em formas cada vez mais maleáveis e efêmeras).

Já em 1931, num pequeno texto de Boletim Ariel, Murilo Mendes apontava a crise da pintura, relacionando-a com o surgimento da fotografia e do cinema, versado sobre um valor capitalista de arte, excluindo a idéia de arte puramente decorativa, assumindo caráter universal. As mudanças de concepção estética e o aprimoramento do conhecimento sobre as artes mudam o pensamento do poeta. Ao caracterizar o quadro como um “texto”, porém “plástico”, o crítico delega o poder da palavra ao quadro.

Enquanto outros falam da técnica, da história da arte, Murilo dá ênfase ao método de composição da tela, à percepção, ao pintor — mais que ultrapassar o plástico e atingir a poesia é ultrapassar a poesia e atingir o plástico. A teoria da contaminação poética de Murilo, que é clara aos olhos e enigmática à percepção, contradiz uma assertiva do próprio poeta: “a poesia habita um mundo, a prosa outro”. Os escritos de Murilo provam o contrário: na prática, a teoria é outra. A TRAMA poética tecida por Murilo (atentos que tramar é sinônimo de engendrar), tanto em poesias como em prosas, prova que os dois estilos co-dividem o mesmo espaço tranqüilamente, num contínuo processo de entrelaçamento experimental.


* Daniela Bunn mora em Florianópolis e é doutoranda em Literatura na Universidade Federal de Santa Catarina. (danibunn@yahoo.com.br)

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TUDO MUITO RÁPIDO


Tudo muito rápido, sem profundidade, sem elos.

Todos querem respostas imediatas para seus interesses e deglutições.

A morte os olha, os acompanha, os mostra veios corroídos

Pela fatalidade do instante que nos leva para os túmulos.

Continuamos perdidos, desamparados interiormente,

Movidos a impaciência e a desassossegos, atrelados a dores e vazios.

O homem reclama da falta de tempo, não se acha, se atrasa, era após era,

Nesse vôo em si mesmo, que nunca se realiza por completo.

Há muito desespero, muita ganância, olhares desconfiados,

Um medo de ir além do que se pode ir.

O amanhã nos encontrará mais atormentados do que já somos,

Nos trairá, nos locomoverá para abismos e ilhas aflitas.

E nesse ir e vir de tensões e comunhões espatifadas,

Nos sentiremos piores, atores indefesos, meninos perdidos a caminho

De suas próprias casas.

A pressa tomou conta de nossos corações, nos desnorteou,

Nos fechou para nós mesmos, nos aprisionou,

Nos condicionou a não acreditarmos em nossos sonhos,

Nos transportou para espaços escuros,

Abertos a fadigas e contratempos.

As vinte e quatro horas do dia, de repente, ficaram muito curtas.

Cada um vive sua individualidade procurando deturpar a do outro.

O espírito se confunde, se funde ao que não se sabe, não cabe em si

De descontentamento e renúncia.

O futuro trará mais incertezas,

A certeza de que permanecemos ruins, rudes, sugados

Pela ausência, filhos de um tempo que não traz respostas,

Que isola e fere os sensíveis,

Que intranqüiliza a alma.

O instante é de indelicadeza, de alheamento.

Aroldo Ferreira Leão, Petrolina, 01/08/2007.


ESTE É O TEMPO


Este é o tempo em que os homens se angustiam e se desprezam com intensidade,

Se descobrem frágeis e aboletados por desgostos e insuficiências renais.

Este é o tempo dos desencontros, das desconversas, das mentiras.

A falta de sensibilidade é gritante, dá medo.

Uns correm pra cá outros pra acolá, se entediam, se frustram.

Os assombros são freqüentes. A realidade pune, cobra, culpa, mata.

Viver é cada vez mais difícil, temeroso. Ser gente é ser cúmplice das desconfianças

E das trapaças, alicerçar em si o ódio e a ganância, enganar e ser enganado.

A alma é confundida e sacudida a todo instante, surrupiada,

Moldada para não evoluir, travada, estruturada nas fugas e nos óbitos.

Em qualquer circunstância, somos traiçoeiros, manipuladores.

Há vozes em nossos interiores que não nos acordam,

Que nos encontram embalados pela musicalidade dos mofos e dos vermes.

Os velórios se multiplicam nos corações apressados, o dia-a-dia consome, some com muitos.

A verdade beija a face da criança que nunca deixamos de ser,

Compreende nossos desníveis e necessidades, nos conduz por veios que não nos secam,

Interpreta nossas vivências e temores, nos traz silêncio, vida.

Cada um é responsável pelo espírito que o guia e o transforma

Naquilo que ele poderá vir a se transformar, testemunha decadente de si mesmo.

Renascer é preciso, mas o processo é mais demorado do que se pensa.

Avançar, avançar com cuidado. Ouvir mais, estar atento a tudo.

Traduzir-se no tempo, nas perplexidades, nas fatalidades.

Reconstruir-se, refazer-se, renovar-se, reafirmar-se em si.

Sustentar-se nos sonhos, refletir-se nas impossibilidades,

Reorientar-se na busca dos próprios segredos,

Vivenciar-se, serenizar-se, olhar-se fundo, humanizar-se.

Aroldo Ferreira Leão, Petrolina, 22/09/2007.


Os poemas acima são do livro A alma que se desconhece, de Aroldo Ferreira Leão, a mais poderosa, comovente e intrigante metralhadora de escritura em poesia brasileira contemporânea. Aroldo Leão é uma alma sem descanso, uma força de uma vitalidade que conhece a morte de perto, de dentro de suas entranhas. Este poeta me vem sempre com um golpe do peso de uma lágrima no gesto de um sorriso. Ele é poeta sabedor de sílabas, sabedor de medidas, sabedor dos miasmas da gente doída que somos, das pessoas cada vez mais vivendo para mais dentro do guarda-roupa. Aroldo Leão tem uma mão singular. Esta é capaz de, como espectro preciso, penetrar nosso peito pela carne, sem fazer alarde e sem rasgá-la. Penetrando nosso peito, este poeta faz sua mão singular nos alcançar pelo coração, e agarrá-lo e afagá-lo, dizendo: Vem comigo e eu mostrarei a vocês até onde a humanidade chegou. Senhor da linguagem que habita todas as possíveis dores e todos os possíveis júbilos humanos; dores e júbilos que existiram, que existem e que ainda existirão. Mas vocês, leitoresnautas, somente saberão disso que falo se lerem Aroldo Leão com o cuidado da alma que não se apascenta, e que, mesmo quando se apascenta, permite-se romper com gás de grito e gás de beijo e gás de saliva e gás de suor, bailando nos pavimentos mais interiores da inteligência. Cuidado volvido a calma. Volvido a vapor de vontade. Cuidado de uma emoção que asa enquanto canta, e cantando lágrima. Por isso, voltem lá, leiam-no de novo. E, lendo-o novamente, sintam em cada estalido de seus ossos como ler Aroldo Leão é próprio de tornar-se sabedor de que a humanidade se sustém em sentir nojo e medo e amor e desprezo simultaneamente.

jamesson buarque


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Primeiro segredo


Caminhando contra o tempo

Passeando por minhas recordações

num tempo em que eu tomava baré tutti-frutti

Enquanto tantos se envergonham

do passado, um passado que mora ao lado

do lado de dentro das minhas emoções

Sou criança: menino bonito ai, menino bonito ai

Irritantemente adorável

Das lembranças que tenho de meu pai,

sou o filho que ele sempre quis ter, e ver crescer

— Vai trabalhar, meu filho, vai!

— Vai trabalhar, meu filho

Pai, o mundo não é meu nem seu

Você não disse

que a velhice iria nos perseguir por toda a vida

até que ela me encontrasse

Ah, se todos se perguntassem quantos anos têm

saberíamos de pessoas com mais de cem eu

Tenho saudade cansada dos problemas que eu já resolvi

tenho saudade de casa, cada caso um reflexo de si

tenho saudade da rua onde cresci e sentia um pouco de medo

hoje toneladas de ódio asfaltam meu primeiro segredo

Quem não tem medo, meu amigo, do inimigo do tempo?

que faz com que o vento sopre em nossas caras

a verdade de que tudo passa

Somos a massa da poeira estelar

Somos a massa da poeira estelar

Somos a massa A massa Que massa

Hei de confessar que eu tenho medo daquilo que entope a aorta

eu tenho medo de quem se esconde atrás da porta e não quer entrar

Somos a massa da poeira estelar

Tudo porque a idade chegou

O peso da idade chegou, meu pai

Tenho saudade cansada dos problemas que eu já resolvi

tenho saudade de casa, cada caso um reflexo de si

tenho saudade da rua onde crescia e senti um pouco de medo

hoje toneladas de ódio asfaltam meu primeiro segredo

Meus cuidados te roubaram meu passado, pequeno.



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Reginaldo Mesquita

bacharel em letras e lingüística pela ufg (ensino e pesquisa em letras — português, literatura e línguas estrangeiras: inglês, francês e latim),
costureiro,
professor de expressão corporal,
recepcionista e secretário de escola de idiomas,
produtor executivo do 1º álbum da actemia — "Com licença Dona cidade",
atendente de call center — vivo,
monitor de latim na faculdade de letras da ufg,
diretor assistente do curta-metragem *cuecas,
diretor assistente do curta-metragem *uma questão de mídia,
diretor assistente e co-roteirista do curta-metragem *a padaria,
(*todos estes curtas são da christianfilmes, direção de christian mariano)
corretor de redações e de provas de literatura e língua portuguesa,
professor de música, inglês e português,
experiência nas áreas de dança, teatro e música desde os 15,
trabalha no cinema desde os 20.

grupos nos quais já trabalhou:
grupo tribbus de dança contemporânea, coreógrafo: eurim pablo borges pinho —
corpo de baile da escola de artes veiga valle
grupo de teatro arte e fatos da ucg, direção: danilo alencar
cia de teatro abaporu, direção: eduardo de souza

grupos nos quais atua:
banda actemia
fanzine literário demo cognítio
banda toc-toc
christianfilmes produções audiovisuais

links:
www.reginaldomesquita.blogspot.com
www.tramavirtual.com.br/actemia




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Venho explorando em meus trabalhos a personagem Madame Bovary, protagonista do livro homônimo de Gustave Flaubert. Tive uma identificação com a personagem. A angústia, o tédio, a idealização romântica, a frustração no casamento e na vida, a alma inquieta, a falta de afinidades com seu meio, enfim, tudo o que compõe a personagem também faz parte, obviamente, do universo feminino não-fictício. E para abordar essa questão de gênero, utilizo a impressão de rendas que remetem ao vestido de noiva e ao casamento.


Sylvana Lobo


Sylvana Lobo nasceu em 1979, no interior de Goiás. Em 2001, morando em Goiânia, formou-se em Direito, mas não exerceu a profissão. Em 2005, concluiu o curso de graduação em Artes Visuais na Universidade Federal de Goiás. Sua produção começou no período da faculdade de Artes, com a atenção voltada para as linguagens pictórica e fotográfica. Deste então, vem participando de algumas exposições, como o 7º Salão de Artes Visuais de Guarulhos/SP (2007); "Madame Bovary sou eu" — individual e realizada no Teatro Nacional, em Brasília/DF (2007); 5º e 6º Salão de Artes Visuais do Museu de Arte Contemporânea de Jataí/GO (2006 e 2007); XXIX Concurso Novos Valores, na Fundação Jaime Câmara, em Goiânia/GO (2006); "Vetores", no Museu de Arte de Goiânia/GO (2005).

http://www.sylvanalobo.com/

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Bryan Holmes é chileno, filho de mãe servo-croata e pai inglês, e mora no Rio. Ou seja, é um autêntico brasileiro. Em “Altrenativa”, o compositor nos surpreende com uma viagem em que um piano e um violino se transmutam em trens, motosserras e coisas de um outro planeta. Música com imaginação e senso de humor.

Paulo Guicheney

Altrenativa (2003) - violino e piano

Esta obra programática representa reminiscências da infância do compositor, específicamente de sua primeira viagem ao sul do Chile, de trem. A viagem começa com o duo em potente rítmica, imitando o trem, até frear, passar por uma estação, continuar, etc. Ao chegar ao destino, a beleza da floresta nativa e o deslumbramento pueril são evocados no solo do piano, de carácter contemplativo, onde o pedal é pressionado e mantido até o final da seção. Logo o violino irrompe violentamente, evocando uma moto-serra numa improvisação brutal, acompanhado do piano, insinuando nesta parte a devastação da floresta pelas companhias madeireiras, causando comoção. Mais uma improvisação do violino, desta vez em glissandi contínuos e agitados, leva à reexposição do tema do trem através do acompanhamento de piano e assim, como se estivesse voltando, a obra é encerrada com um cluster do antebraço esquerdo que finaliza o gradativo “frenando” indicado na partitura.

Gravada no Teatro Municipal de Valparaíso, Chile, e publicada no CD Caleidoscopio.

Estreada por Sebastián Rojas (vln) e Priscila Vergara (pno) no salão de honor do Instituto Chileno-Norteamericano de Cultura de Valparaíso, 21 de novembro de 2003.

Editada por PERIFERIA Sheet Music Barcelona:

http://www.periferiamusic.com/eng/detalle.php?id=144



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Bryan Holmes [Chile, 1981] É Bacharel em Ciências e Artes Musicais pela Pontificia Universidad Católica de Valparaíso, Chile, onde estudou composição e orquestração com Eduardo Cáceres. Em 2007 ingressou no Mestrado em Composição da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, como bolsista da CAPES. Compositor e multi-instrumentista, tem participado na área da música erudita e em diversas bandas de música experimental, rock, etno-folklore, eletrônica, etc. Compôs para os formatos solista, de câmara, coral, sinfônico e eletroacústico e trabalhou com cinema, dança, teatro, televisão e rádio. Como regente estreou obras de câmara de diversos compositores em prestigiosos teatros e salas de concerto em Valparaíso, Viña del Mar, Santiago e Rio de Janeiro. Em 2004 venceu o primeiro concurso de composição “Darwin Vargas W”, realizado em Viña del Mar. Sua música foi publicada em alguns CDs independentes, um deles com distribuição internacional, e em partituras pela editora PERIFEIRA Sheet Music de Barcelona, Espanha. Estreou suas obras em diferentes cidades da América Latina e atuou como produtor musical em Valparaíso, onde organizou concertos, gravações, instalações, happenings, festivais, etc., com apoios do Conselho Nacional da Cultura e das Artes do Chile, do Fondo de Fomento à Música Nacional, do Governo e da Prefeitura de Valparaíso e da PUCV. Foi fundador da Associação de Música Contemporânea de Valparaíso e é membro da Rede de Arte Sonora Latino-americana e da Comunidade Eletroacústica do Chile.

www.bryanholmes.net